17.12.18

Ricardo- capítulos XIV e XV


XIV

            Pelo fim da tarde, já cansado de tanto socializar, despedi-me eficazmente de todos e saí. O verão ainda tardava e a escuridão apossava-se das ruas, desenhando sombras bizarras sob a luz artificial dos candeeiros. O céu, claro e tão estrelado quanto o pode ser numa qualquer cidade, limpava a atmosfera, tornando mais fácil a respiração e ajudando a ignorar a agressão cinzenta dos tubos de escape, os ruídos perdidos, as buzinadelas. Na distância, uma igreja tocava a finados. Que diabo, os sinos das igrejas pareciam só conhecer a melopeia monótona dos finados! Ou seria o meu cérebro que selecionava particularmente aquele toque e se distraía nos momentos em que, por exemplo, não fizessem mais do que martelar a passagem das horas…
            Encostei-me a um candeeiro e acendi uma cigarrilha relativamente desacordada. Olhei a vaga de fumo azulado que se perdia em direção às estrelas mais resistentes e ao luar desmaiado. Por instantes, deixei-me ficar num estado de uma certa meditação, pensando sem pensar, e ocorreram-se-me, uma vez mais, o olhar revirado, o branco dos olhos, a carne macilenta a enrugar-se, do homem da seringa. Escondi simultaneamente novo sorriso e uma certa preocupação que me deve ter trespassado sem que ninguém tenha reparado. Havia gente que caminhava, sós ou em grupo, todos demasiado concentrados no que criam ser as suas preocupações ou os seus lazeres. Ou absolutamente nada para além do momento. Diziam coisas que se perdiam totalmente além dos meus sentidos. Ignorava totalmente para onde cada um se dirigia. E eu? Não, eu conhecia exatamente o caminho que me levaria de volta a casa.
            Muito subitamente, senti que alguém me tocava ao de leve nas costas. Não me cheguei realmente a sobressaltar nem a surpreender pela figura entrapada de uma velha de olhar vivo que quase se me encostava. Um cheiro a algo como mofo emanava das suas roupas e do cabelo desgrenhado, untado com sabão macaco ao longo do seu branco amareliço. Achei que me ia pedir uma esmola e, basicamente para que não me incomodasse, retirei automaticamente a carteira do bolso da minha gabardina, pronto a dar-lhe uma moeda de euro. Gesticulou um sinal enfático de negação e sorriu um sorriso de dentes podres. Insisti e ela mesma me forçou a mão e a carteira de regresso ao bolso. Podia já não ser dona daquele tipo de juízo que leva as pessoas a consideraram alguém ajuizado. Pausei incomodado e, com um tom de voz forçadamente empático, perguntei:
            - A senhora precisa de alguma coisa?
            A velha voltou a revelar-me o seu sorriso carcomido, contrastante com o olhar vibrante apesar das rugas que o ladeavam e, num tom de voz gasto, apontou para a minha cigarrilha e disse-me:
            - Sabe que não é isso que o vai matar…
            - Perdão?
            - Um cigarro ou… - pausou brevemente – como é que isso se chama?, uma cigarrilha, enfim, tabaco, não matam sem mais nem menos. Não importa o que lhe digam. A alma é que mata. Quando a alma começa a definhar e se vai tornando cada vez mais pequena, muito pequenina, meu filho, isso sim, isso é que mata. Perder a alma é que mata. É a alma que nos faz viver e a alma que nos faz morrer. Está tudo na alma, é como uma luz que só existe quando ligamos o interruptor. Quando nascemos, liga-se um interruptor. Quando morremos é porque houve algum problema com o interruptor que nenhum eletricista chegou a tempo de consertar. Ou que tinha atingido o ponto de já não ter conserto. Está a entender-me?
            Não posso afirmar que estivesse. Que espécies de figura e de estranho discurso vinham, assim, surpreender os meus não-pensamentos? A velha levou as mãos aos rins num queixume surdo e interrogou:
            - Tem tomado bem conta da sua alma?
            Devia estar senil e com delírios religiosos.
            - Olhe, minha senhora, agradeço. De certeza que não lhe faz falta uma esmolinha? – perguntei.
            - Não está a entender. A sua alma é a sua luz. Pode fumar essas coisas, mas tenha muito cuidado com a sua alma. A luz não vem do tabaco incandescente, mas sim da alma. Sabe o caminho para casa? Quero dizer, o caminho que realmente o leva a casa?
            Senil e com delírios religiosos. Parecia fazer muito pouco sentido. Como era, infelizmente, natural. Achei que alguém deveria tomar conta de gente naquele estado. Não eu, naturalmente. Alguém. O Estado, que se ia demitindo paulatinamente dos seus velhos e dos seus fracos. Ou uma instituição de caridade. Ali é que ela não estava bem.
            - Tem alguém que tome conta de si, minha senhora? Precisa de alguma coisa? – repeti-me.
            A velha soltou uma risadinha, interrompida por uma leve tossiqueira. De seguida, colocou-me a mão sebenta no braço da gabardina e, por surpresa e educação simultâneas, ainda que sentindo uma espécie de nojo interior de quem se vê invadido por uma criatura alienígena, permiti o toque.
            - Agora, se me quiser dar uma esmolinha, agradeço, meu senhor…
            Fui ao bolso, retirei a carteira e passei-lhe uma nota de cinco para a mão, tão rapidamente quanto pude.
            - Deus a guarde. E tenha cuidado consigo, que as ruas não são seguras.
            A velha reiterou a sua risadinha seca e, sem um piscar de olhos, ficou a olhar enquanto eu me afastava atarantadamente. Não olhei mais para trás e apressei-me a refugiar-me no triste conforto burguês da minha casa. Só a mim aconteciam coisas destas!














XV

            As nuvens, num sudário escuro e irregular, tinham ocultado as poucas estrelas da noite anterior e ameaçavam derramar-se com a força de muitos tsunamis sobre as ruas onde, ainda assim, as pessoas se atarefavam das mais diversas maneiras, com modos alegres inclusive, o que me causava alguma confusão. Um vento cortante soprava do norte. Há quem diga que a chuva é ótima porque ioniza o ar. Perfeito. Pessoalmente, no entanto, preferiria que se dedicasse a ionizar os céus e a engripar as legiões de anjos e arcanjos de louros e longos cabelos encharcados a pingar no algures. Prefiro ser deixado em paz. Mas não há nada que se possa fazer quanto a isso.
            Observei, enquanto caminhava, afastando-me do parque de estacionamento que me levava couro e cabelo… Um homem de fato-macaco, que pintava uma parede em tons claros, assobiava baixinho uma canção que não soube nem me importou muito reconhecer. Um entregador de pizzas passou a alta velocidade, com a sua caixa colorida nas traseiras da motorizada e uma mistura de pressa sem motivo e inclinadas manobras mortais adiante. Surgiu-me na mente, muito brevemente, a cena que certa vez presenciara, um entregador de pizzas que, ao fazer uma curva encostado ao passeio, embateu em cheio contra uma camioneta que se encontrava estacionada logo após a viragem e ali ficou estendido, inanimado, não penso que o capacete lhe tenha valido. Um homem carregava ao ombro um caixote, aparentemente muito pesado, rapidamente, como se não lhe pesasse ou, pelo menos, como se tanto peso fosse um dado adquirido e absolutamente banal da existência. Duas mulheres bebericavam um café e conversavam animadamente numa pequena esplanada que alguém se esquecera de desmontar, estranhamente alheadas do vento que as despenteava sem dó nem piedade. Talvez conversassem sobre namorados. Talvez combinassem uma festa. Talvez discutissem vestuário. Talvez se reportassem a coisas do trabalho, é curioso que as pessoas gastam grande parte das suas vidas a falar sobre trabalho, para além de trabalharem; há, inclusive, quem se dê mal com a reforma e, ironicamente, talvez não seja mau de todo esta tendência atual de esticar a idade da reforma até à hora da morte ou quase, ficam quase todos satisfeitos e quem se importa com os insatisfeitos? As buzinas, que a lei por todos ignorada proíbe, não se calavam na cegarrega diária das longas filas e pareceu-me até que alguns condutores não conseguiriam viver no vazio daquilo.
            Então, ribombou um poderosíssimo trovão de guerra e as nuvens derramaram-se num gesto combinado sobre a alegre humanidade entorpecida. Não se via um metro à frente. Mas eu, já à porta do meu gabinete, rodei a chave, entrei para o seco e fechei a porta energicamente. Sim, de algum modo, sentia-me enérgico. Ter-me-ia aquela horda de desconhecidos influenciado subrepticiamente?
            - Bom dia a todos! – exclamei, num tom de voz tão elevado que quase me surpreendi, enquanto pousava a gabardina num cabide.
            Os olhares voltaram-se para mim e retribuíram o cumprimento. Notavam-se réstias de sono em alguns. Outros estavam mais despertos. Conforme. Sentei-me, quase me atirei, na minha cadeira e perguntei:
            - Então? Que há de novo?
            João rodou o ecrã do seu computador na minha direção, aproximei-me com um impulso das rodinhas do meu assento e ele começou, profissional e entusiasticamente, a mostrar-me projetos que eu já conhecia, ou que conhecia razoavelmente, um após outro, após outro, todas aquelas imagens… Que tédio! Não sei por que carga de água aquilo me entediava ao ponto de querer encostar a cabeça sobre a secretária e desejar boa noite a todos. Do outro lado da sala, Marília informou-me que tinham telefonado da Câmara, que gostariam de agendar uma reunião. Despachei-os num gesto de mão que ninguém na Câmara viu, agradeci a informação e disse que mais tarde trataria do assunto. João continuava a aborrecer-me com maquetas de casas cúbicas no ecrã. Que tédio, sim… Esperei que ele não se apercebesse embora, com franqueza, tanto se me desse. Sorri e dei-lhe uma palmadinha aprovadora nas costas.
            - Obrigado, João. Está tudo muito bem encaminhado.
            Regressei à minha secretária. Liguei o computador e pesquisei as contas de email. Na verdade, não cheguei a abrir nenhum, fiquei-me pelos títulos. Suspirei audivelmente e penso que recebi alguns olhares discretos e automáticos. Ergui-me, fui ao bolso interior da gabardina e retirei uma cigarrilha. Fitei-a, uns instantes, contra a luz artificial da sala, acendi-a e soltei uma larga baforada em direção ao teto. Vi Marília olhar-me de lado e, tão discretamente quanto soube, engolir em seco de volta aos seus afazeres. João parecia não ter dado por nada. Andreia, a meio da sala, dirigiu-se-me:
            - Miguel… Desculpe, mas é proibido fumar em locais de trabalho. Não quero interferir. Mas é. Não é?
            Pigarreei e perguntei-lhe com um largo sorriso:
            - A partir de hoje não é. Está a pensar chamar as autoridades?
            Andreia, uma estagiária que acolhera a pedido de um amigo, pareceu-me surpreendida e embaraçada. Forjou um leve ataque de tosse. Sim, sei perfeitamente que o forjou.
            - Eu não queria dizer… Bem, é só porque é proibido e porque há motivos
para isso.
            - Ah! – Exclamei.
            Inspirou fundo e prosseguiu:
            - Sabe que aqui mais ninguém fuma… - neste instante, já éramos olhados pelos restantes - … e que há o fumo em segunda mão e os riscos do tabaco, essas coisas. Confesso que a mim me incomoda. Não sei se incomoda mais alguém…
            Ninguém acrescentou palavra. Escutavam a conversa com curiosidade. Não sei o que gostariam de ter dito e não disseram. Andreia deve ter-se sentido desapoiada…
            - Bom, é apenas uma questão de nos respeitarmos mutuamente. Não sei. Francamente, o fumo do tabaco incomoda-me.
            Recordei-me do meu percurso de vida, grande parte dele passado em cafés, caves, restaurantes, bares, polivalentes e corredores do liceu, salas de aula da universidade, concertos selváticos, casas de jogos, cinemas, casas de chá, os transportes públicos inclusive, quando eu não passava de um garoto e seguia pela mão do meu pai, casas atafulhadas de gente em que não se via um palmo à frente do nariz, chega, acho que já me expliquei, e isso não parecia incomodar ninguém. Agora, alguém começava logo a tossir à vista de uma pequena nuvem azulada à distância. E a ter muito medo de tombar para o lado com cancro instantâneo. Tudo se tornara instantâneo. Certo, reconhecia os malefícios todos do tabaco e compreendi que estava a desrespeitar os outros de acordo com as normas da atualidade, e toda a gente sabe como as normas são flexíveis, atualizáveis e aparentemente definitivas, mas estava pouco incomodado com o facto. Na verdade, sentia um estranho prazer em chamar a morte lentamente, lentamente, em desafiá-la como numa arena que eu gostava de julgar conhecer.
            - Ok. – disse enfaticamente – Se me permitirem terminar a minha cigarrilha ocasional, peço desculpa e agradeço. Relaxa-me.
            Tirei mais duas ou três passas, fui à porta e lancei o que restava da cigarrilha, quase tudo, com um toque de indicador contra o polegar, asperamente, para o meio da chuva forte que se encarregou de a fazer perder num redemoinho. Concentrei-me por momentos na monotonia repetitiva da tempestade furiosa e interroguei-me por onde andaria a velha da noite anterior. Fechei a porta, irrompi pela sala, bati palmas e declarei:
            - Minha gente, hora de fazermos uma reunião!

            Estávamos todos instalados em redor da mesa longa. Corri os estores das largas vidraças. Era olhado com alguma curiosidade mas não demasiada… Na verdade, não era incomum eu marcar reuniões de modo abrupto. Só porque me lembrava de algo. Não éramos nenhuma multinacional cheia de pró-formas. Já há muito que eu instalara, juntamente com alguns audiovisuais necessários, uma desnecessária aparelhagem de som em duas versões: leitor de CDs e hi-fi ou gira-discos. Optando propositadamente pelo mais antiquado, retirei um velho vinil e pu-lo, com cuidado de mãos, a rodar um tema:

“So long, Frank Lloyd Wright.
I can’t believe your song is gone so soon.
(…)
Architects may come and
Architects may go and
Never change your point of view.
(…)
I never laughed so long
So long
So long.”

Desliguei. Cruzei os braços e fiquei a olhá-los de pé, à espera de uma reação que tardava. Era mais ou menos natural visto que, tanto quanto sabia, nenhum dos meus colaboradores possuía o dom de me ler a mente. Por fim, interroguei:
- Então?
Todos se entreolharam perante o enigma. João adiantou-se e confessou que não sabia onde eu pretendia chegar. Os outros aquiesceram.
- Querem que passe o tema outra vez? – interroguei provocatoriamente.
- Acho que não é preciso. – tornou João a falar em nome geral – É Paul Simon, não é? Frank Lloyd Wright e tudo isso… É um tema bonito. De resto, suponho que nos tenha reunido com outra finalidade. Mesmo que tenha sido um momento calmo e interessante.
Sorri de volta ao sorriso que me dirigia, sentei-me confortavelmente no lugar que sempre ocupava, a cabeceira da mesa, arregacei ligeiramente as mangas, apoiei e estendi os braços e entrelacei os dedos das mãos.
- Ok. A partir de hoje, fora os projetos em andamento, acabam-se as casas cúbicas. São uma poluição pretensamente funcional para os olhos dos cidadãos. E todos sabemos muito bem quanta poluição paira no nosso mundo e não creio que seja necessária mais e mais. Não fazemos mais casas cúbicas. Nem pontes cúbicas. Nem nada cúbico. Coisas cúbicas acabaram-se. O mundo já é quadrado demais para suportar tanto cubismo no pior sentido.
Burburinho. O meu sorriso foi indisfarçável, e nem eu o pretendia disfarçar, diante da surpresa geral.
- Quem é que aqui gosta mesmo muito de arquitetura? – perguntei.
Consentimento geral. Já sabia. Não é comum um arquiteto não o ser por vocação.
- Quem é que aqui considera essas coisas cúbicas o topo da arquitetura? – insisti.
- Bom… - principiou Marília - …, é óbvio que gostaria de poder ser mais criativa. Se bem que possamos perfeitamente ser criativos no âmbito dessas coisas cúbicas, como lhes chama, e que isso até seja, de certa forma, um desafio. Mas não sei se nos encontramos em posição de fazermos exatamente o que quisermos. Os clientes chegam até nós e é isso mesmo que pretendem. Começamos a recusar clientes? E depois? Fechamos portas? Não podemos propriamente dar-nos ao luxo de recriar Capelas Sistinas ou Casas da Cascata.
- Pois. – concordei – Não estou a dizer que possamos fugir completamente ao mainstream. O que quero dizer é que quando nos chegarem com essas ideias, porque obviamente as pessoas não têm grande sensibilidade arquitetónica nem isso se lhes pode exigir, têm uma vontade comercial e isso é compreensível, passamos a tentar mostrar-lhes opções. Se persistirem na ideia inicial, fazemos-lhes a vontade. Mas, por princípio, esforçamo-nos para os conduzir por caminhos mais interessantes.
- E depois… há ainda as exigências camarárias. Não podemos querer ser assim tão diferentes. – arriscou Andreia.
Impacientei-me.
- As câmaras que se danem. Não passam de políticos e tecnocratas e têm todos as cabeças no umbigo. Com jeitinho, damos-lhes a volta. Podemos perfeitamente fazer casas não cúbicas, transmitindo-lhes a impressão de que fazemos casas cúbicas. Aí é que tem que morar a nossa criatividade. Temos que ser uma espécie de prestidigitadores da arquitetura. Como estamos não tem graça. Temos que conseguir imprimir um cunho pessoal, nosso, enquanto equipa coesa e com ideias, ao que projetarmos, ok? Sei que torna tudo mais trabalhoso. Mas penso que, também, menos enfadonho. Quem é que está comigo? Na verdade, isto até poderá ser uma ordem, mas quero ter a vossa concordância, quero ver-nos como uma equipa a sério. Empenhados. E inteligentes. Não somos exatamente engenheiros de obras públicas. Vá, quem está comigo?
- Se assim é… - disse João -…, estou de acordo. Para dizer a verdade, estou muito de acordo.
Os restantes acompanharam-no.
- Ora muito bem. Perfeito! Estão dispensados. Obrigado por me terem escutado e compreendido. – finalizei, extremamente agradado.
Enquanto os via retirarem-se, chamei Marília e pedi:
- Importava-se de me trazer os dados de que me falou? Aquele pedido de uma reunião da Câmara? Obrigado. E traga-me ainda um cafezinho…
Marília surpreendeu-se, bem o vi, mas preparava-se para aceder, o que não deixava de ser interessante.
- Estou a brincar. – aligeirei. E vi-a relaxar um pouco – Mas preciso mesmo dos dados que aí tiver relativos ao contacto da Câmara.
- Claro. – respondeu. E saiu, por instantes.
Enquanto aguardava que regressasse com uma cópia de algum email, dados anotados de um telefonema ou algo assim, inspirei profundamente e encostei-me, satisfeito como um felino satisfeito, ao fundo da cadeira. No exterior, a tempestade não abrandara, mas os vidros duplos e os estores tornavam-na virtualmente invisível. Como se acontecesse num canto recôndito do mundo e nos chegasse apenas num impessoal flash noticioso.

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