XIV
Pelo fim da tarde, já cansado de
tanto socializar, despedi-me eficazmente de todos e saí. O verão ainda tardava
e a escuridão apossava-se das ruas, desenhando sombras bizarras sob a luz
artificial dos candeeiros. O céu, claro e tão estrelado quanto o pode ser numa
qualquer cidade, limpava a atmosfera, tornando mais fácil a respiração e
ajudando a ignorar a agressão cinzenta dos tubos de escape, os ruídos perdidos,
as buzinadelas. Na distância, uma igreja tocava a finados. Que diabo, os sinos
das igrejas pareciam só conhecer a melopeia monótona dos finados! Ou seria o
meu cérebro que selecionava particularmente aquele toque e se distraía nos
momentos em que, por exemplo, não fizessem mais do que martelar a passagem das
horas…
Encostei-me a um candeeiro e acendi
uma cigarrilha relativamente desacordada. Olhei a vaga de fumo azulado que se
perdia em direção às estrelas mais resistentes e ao luar desmaiado. Por
instantes, deixei-me ficar num estado de uma certa meditação, pensando sem
pensar, e ocorreram-se-me, uma vez mais, o olhar revirado, o branco dos olhos,
a carne macilenta a enrugar-se, do homem da seringa. Escondi simultaneamente
novo sorriso e uma certa preocupação que me deve ter trespassado sem que
ninguém tenha reparado. Havia gente que caminhava, sós ou em grupo, todos
demasiado concentrados no que criam ser as suas preocupações ou os seus
lazeres. Ou absolutamente nada para além do momento. Diziam coisas que se
perdiam totalmente além dos meus sentidos. Ignorava totalmente para onde cada
um se dirigia. E eu? Não, eu conhecia exatamente o caminho que me levaria de volta
a casa.
Muito subitamente, senti que alguém
me tocava ao de leve nas costas. Não me cheguei realmente a sobressaltar nem a
surpreender pela figura entrapada de uma velha de olhar vivo que quase se me
encostava. Um cheiro a algo como mofo emanava das suas roupas e do cabelo
desgrenhado, untado com sabão macaco ao longo do seu branco amareliço. Achei
que me ia pedir uma esmola e, basicamente para que não me incomodasse, retirei automaticamente
a carteira do bolso da minha gabardina, pronto a dar-lhe uma moeda de euro.
Gesticulou um sinal enfático de negação e sorriu um sorriso de dentes podres.
Insisti e ela mesma me forçou a mão e a carteira de regresso ao bolso. Podia já
não ser dona daquele tipo de juízo que leva as pessoas a consideraram alguém
ajuizado. Pausei incomodado e, com um tom de voz forçadamente empático,
perguntei:
- A senhora precisa de alguma coisa?
A velha voltou a revelar-me o seu
sorriso carcomido, contrastante com o olhar vibrante apesar das rugas que o
ladeavam e, num tom de voz gasto, apontou para a minha cigarrilha e disse-me:
- Sabe que não é isso que o vai
matar…
- Perdão?
- Um cigarro ou… - pausou brevemente
– como é que isso se chama?, uma cigarrilha, enfim, tabaco, não matam sem mais
nem menos. Não importa o que lhe digam. A alma é que mata. Quando a alma começa
a definhar e se vai tornando cada vez mais pequena, muito pequenina, meu filho,
isso sim, isso é que mata. Perder a alma é que mata. É a alma que nos faz viver
e a alma que nos faz morrer. Está tudo na alma, é como uma luz que só existe
quando ligamos o interruptor. Quando nascemos, liga-se um interruptor. Quando
morremos é porque houve algum problema com o interruptor que nenhum eletricista
chegou a tempo de consertar. Ou que tinha atingido o ponto de já não ter conserto.
Está a entender-me?
Não posso afirmar que estivesse. Que
espécies de figura e de estranho discurso vinham, assim, surpreender os meus
não-pensamentos? A velha levou as mãos aos rins num queixume surdo e
interrogou:
- Tem tomado bem conta da sua alma?
Devia estar senil e com delírios
religiosos.
- Olhe, minha senhora, agradeço. De
certeza que não lhe faz falta uma esmolinha? – perguntei.
- Não está a entender. A sua alma é
a sua luz. Pode fumar essas coisas, mas tenha muito cuidado com a sua alma. A
luz não vem do tabaco incandescente, mas sim da alma. Sabe o caminho para casa?
Quero dizer, o caminho que realmente o leva a casa?
Senil e com delírios religiosos.
Parecia fazer muito pouco sentido. Como era, infelizmente, natural. Achei que
alguém deveria tomar conta de gente naquele estado. Não eu, naturalmente.
Alguém. O Estado, que se ia demitindo paulatinamente dos seus velhos e dos seus
fracos. Ou uma instituição de caridade. Ali é que ela não estava bem.
- Tem alguém que tome conta de si,
minha senhora? Precisa de alguma coisa? – repeti-me.
A velha soltou uma risadinha,
interrompida por uma leve tossiqueira. De seguida, colocou-me a mão sebenta no
braço da gabardina e, por surpresa e educação simultâneas, ainda que sentindo
uma espécie de nojo interior de quem se vê invadido por uma criatura alienígena,
permiti o toque.
- Agora, se me quiser dar uma
esmolinha, agradeço, meu senhor…
Fui ao bolso, retirei a carteira e
passei-lhe uma nota de cinco para a mão, tão rapidamente quanto pude.
- Deus a guarde. E tenha cuidado
consigo, que as ruas não são seguras.
A velha reiterou a sua risadinha
seca e, sem um piscar de olhos, ficou a olhar enquanto eu me afastava
atarantadamente. Não olhei mais para trás e apressei-me a refugiar-me no triste
conforto burguês da minha casa. Só a mim aconteciam coisas destas!
XV
As nuvens, num sudário escuro e
irregular, tinham ocultado as poucas estrelas da noite anterior e ameaçavam
derramar-se com a força de muitos tsunamis sobre as ruas onde, ainda assim, as
pessoas se atarefavam das mais diversas maneiras, com modos alegres inclusive,
o que me causava alguma confusão. Um vento cortante soprava do norte. Há quem
diga que a chuva é ótima porque ioniza o ar. Perfeito. Pessoalmente, no
entanto, preferiria que se dedicasse a ionizar os céus e a engripar as legiões
de anjos e arcanjos de louros e longos cabelos encharcados a pingar no algures.
Prefiro ser deixado em paz. Mas não há nada que se possa fazer quanto a isso.
Observei, enquanto caminhava, afastando-me
do parque de estacionamento que me levava couro e cabelo… Um homem de
fato-macaco, que pintava uma parede em tons claros, assobiava baixinho uma
canção que não soube nem me importou muito reconhecer. Um entregador de pizzas
passou a alta velocidade, com a sua caixa colorida nas traseiras da motorizada e
uma mistura de pressa sem motivo e inclinadas manobras mortais adiante.
Surgiu-me na mente, muito brevemente, a cena que certa vez presenciara, um
entregador de pizzas que, ao fazer uma curva encostado ao passeio, embateu em
cheio contra uma camioneta que se encontrava estacionada logo após a viragem e
ali ficou estendido, inanimado, não penso que o capacete lhe tenha valido. Um
homem carregava ao ombro um caixote, aparentemente muito pesado, rapidamente,
como se não lhe pesasse ou, pelo menos, como se tanto peso fosse um dado
adquirido e absolutamente banal da existência. Duas mulheres bebericavam um
café e conversavam animadamente numa pequena esplanada que alguém se esquecera
de desmontar, estranhamente alheadas do vento que as despenteava sem dó nem
piedade. Talvez conversassem sobre namorados. Talvez combinassem uma festa.
Talvez discutissem vestuário. Talvez se reportassem a coisas do trabalho, é
curioso que as pessoas gastam grande parte das suas vidas a falar sobre
trabalho, para além de trabalharem; há, inclusive, quem se dê mal com a reforma
e, ironicamente, talvez não seja mau de todo esta tendência atual de esticar a
idade da reforma até à hora da morte ou quase, ficam quase todos satisfeitos e
quem se importa com os insatisfeitos? As buzinas, que a lei por todos ignorada
proíbe, não se calavam na cegarrega diária das longas filas e pareceu-me até
que alguns condutores não conseguiriam viver no vazio daquilo.
Então, ribombou um poderosíssimo
trovão de guerra e as nuvens derramaram-se num gesto combinado sobre a alegre
humanidade entorpecida. Não se via um metro à frente. Mas eu, já à porta do meu
gabinete, rodei a chave, entrei para o seco e fechei a porta energicamente.
Sim, de algum modo, sentia-me enérgico. Ter-me-ia aquela horda de desconhecidos
influenciado subrepticiamente?
- Bom dia a todos! – exclamei, num
tom de voz tão elevado que quase me surpreendi, enquanto pousava a gabardina
num cabide.
Os olhares voltaram-se para mim e
retribuíram o cumprimento. Notavam-se réstias de sono em alguns. Outros estavam
mais despertos. Conforme. Sentei-me, quase me atirei, na minha cadeira e
perguntei:
- Então? Que há de novo?
João rodou o ecrã do seu computador
na minha direção, aproximei-me com um impulso das rodinhas do meu assento e ele
começou, profissional e entusiasticamente, a mostrar-me projetos que eu já
conhecia, ou que conhecia razoavelmente, um após outro, após outro, todas
aquelas imagens… Que tédio! Não sei por que carga de água aquilo me entediava
ao ponto de querer encostar a cabeça sobre a secretária e desejar boa noite a
todos. Do outro lado da sala, Marília informou-me que tinham telefonado da
Câmara, que gostariam de agendar uma reunião. Despachei-os num gesto de mão que
ninguém na Câmara viu, agradeci a informação e disse que mais tarde trataria do
assunto. João continuava a aborrecer-me com maquetas de casas cúbicas no ecrã. Que
tédio, sim… Esperei que ele não se apercebesse embora, com franqueza, tanto se
me desse. Sorri e dei-lhe uma palmadinha aprovadora nas costas.
- Obrigado, João. Está tudo muito
bem encaminhado.
Regressei à minha secretária. Liguei
o computador e pesquisei as contas de email.
Na verdade, não cheguei a abrir nenhum, fiquei-me pelos títulos. Suspirei audivelmente
e penso que recebi alguns olhares discretos e automáticos. Ergui-me, fui ao
bolso interior da gabardina e retirei uma cigarrilha. Fitei-a, uns instantes,
contra a luz artificial da sala, acendi-a e soltei uma larga baforada em
direção ao teto. Vi Marília olhar-me de lado e, tão discretamente quanto soube,
engolir em seco de volta aos seus afazeres. João parecia não ter dado por nada.
Andreia, a meio da sala, dirigiu-se-me:
- Miguel… Desculpe, mas é proibido
fumar em locais de trabalho. Não quero interferir. Mas é. Não é?
Pigarreei e perguntei-lhe com um
largo sorriso:
- A partir de hoje não é. Está a
pensar chamar as autoridades?
Andreia, uma estagiária que acolhera
a pedido de um amigo, pareceu-me surpreendida e embaraçada. Forjou um leve ataque
de tosse. Sim, sei perfeitamente que o forjou.
- Eu não queria dizer… Bem, é só
porque é proibido e porque há motivos
para
isso.
- Ah! – Exclamei.
Inspirou fundo e prosseguiu:
- Sabe que aqui mais ninguém fuma… -
neste instante, já éramos olhados pelos restantes - … e que há o fumo em
segunda mão e os riscos do tabaco, essas coisas. Confesso que a mim me
incomoda. Não sei se incomoda mais
alguém…
Ninguém acrescentou palavra.
Escutavam a conversa com curiosidade. Não sei o que gostariam de ter dito e não
disseram. Andreia deve ter-se sentido desapoiada…
- Bom, é apenas uma questão de nos
respeitarmos mutuamente. Não sei. Francamente, o fumo do tabaco incomoda-me.
Recordei-me do meu percurso de vida,
grande parte dele passado em cafés, caves, restaurantes, bares, polivalentes e
corredores do liceu, salas de aula da universidade, concertos selváticos, casas
de jogos, cinemas, casas de chá, os transportes públicos inclusive, quando eu
não passava de um garoto e seguia pela mão do meu pai, casas atafulhadas de
gente em que não se via um palmo à frente do nariz, chega, acho que já me
expliquei, e isso não parecia incomodar ninguém. Agora, alguém começava logo a
tossir à vista de uma pequena nuvem azulada à distância. E a ter muito medo de tombar
para o lado com cancro instantâneo. Tudo se tornara instantâneo. Certo,
reconhecia os malefícios todos do tabaco e compreendi que estava a desrespeitar
os outros de acordo com as normas da atualidade, e toda a gente sabe como as
normas são flexíveis, atualizáveis e aparentemente definitivas, mas estava
pouco incomodado com o facto. Na verdade, sentia um estranho prazer em chamar a
morte lentamente, lentamente, em desafiá-la como numa arena que eu gostava de
julgar conhecer.
- Ok. – disse enfaticamente – Se me
permitirem terminar a minha cigarrilha ocasional, peço desculpa e agradeço.
Relaxa-me.
Tirei mais duas ou três passas, fui
à porta e lancei o que restava da cigarrilha, quase tudo, com um toque de
indicador contra o polegar, asperamente, para o meio da chuva forte que se
encarregou de a fazer perder num redemoinho. Concentrei-me por momentos na
monotonia repetitiva da tempestade furiosa e interroguei-me por onde andaria a
velha da noite anterior. Fechei a porta, irrompi pela sala, bati palmas e
declarei:
- Minha gente, hora de fazermos uma
reunião!
Estávamos todos instalados em redor
da mesa longa. Corri os estores das largas vidraças. Era olhado com alguma
curiosidade mas não demasiada… Na verdade, não era incomum eu marcar reuniões
de modo abrupto. Só porque me lembrava de algo. Não éramos nenhuma
multinacional cheia de pró-formas. Já há muito que eu instalara, juntamente com
alguns audiovisuais necessários, uma desnecessária aparelhagem de som em duas
versões: leitor de CDs e hi-fi ou gira-discos. Optando propositadamente pelo
mais antiquado, retirei um velho vinil e pu-lo, com cuidado de mãos, a rodar um
tema:
“So long, Frank Lloyd Wright.
I can’t believe your song is gone so soon.
(…)
Architects may come and
Architects may go and
Never change your point of view.
(…)
I never laughed so long
So long
So long.”
Desliguei.
Cruzei os braços e fiquei a olhá-los de pé, à espera de uma reação que tardava.
Era mais ou menos natural visto que, tanto quanto sabia, nenhum dos meus
colaboradores possuía o dom de me ler a mente. Por fim, interroguei:
-
Então?
Todos
se entreolharam perante o enigma. João adiantou-se e confessou que não sabia
onde eu pretendia chegar. Os outros aquiesceram.
-
Querem que passe o tema outra vez? – interroguei provocatoriamente.
-
Acho que não é preciso. – tornou João a falar em nome geral – É Paul Simon, não
é? Frank Lloyd Wright e tudo isso… É um tema bonito. De resto, suponho que nos
tenha reunido com outra finalidade. Mesmo que tenha sido um momento calmo e
interessante.
Sorri
de volta ao sorriso que me dirigia, sentei-me confortavelmente no lugar que
sempre ocupava, a cabeceira da mesa, arregacei ligeiramente as mangas, apoiei e
estendi os braços e entrelacei os dedos das mãos.
-
Ok. A partir de hoje, fora os projetos em andamento, acabam-se as casas
cúbicas. São uma poluição pretensamente funcional para os olhos dos cidadãos. E
todos sabemos muito bem quanta poluição paira no nosso mundo e não creio que
seja necessária mais e mais. Não fazemos mais casas cúbicas. Nem pontes
cúbicas. Nem nada cúbico. Coisas cúbicas acabaram-se. O mundo já é quadrado
demais para suportar tanto cubismo no pior sentido.
Burburinho.
O meu sorriso foi indisfarçável, e nem eu o pretendia disfarçar, diante da
surpresa geral.
-
Quem é que aqui gosta mesmo muito de arquitetura? – perguntei.
Consentimento
geral. Já sabia. Não é comum um arquiteto não o ser por vocação.
-
Quem é que aqui considera essas coisas cúbicas o topo da arquitetura? – insisti.
-
Bom… - principiou Marília - …, é óbvio que gostaria de poder ser mais criativa.
Se bem que possamos perfeitamente ser criativos no âmbito dessas coisas cúbicas,
como lhes chama, e que isso até seja, de certa forma, um desafio. Mas não sei
se nos encontramos em posição de fazermos exatamente o que quisermos. Os
clientes chegam até nós e é isso mesmo que pretendem. Começamos a recusar
clientes? E depois? Fechamos portas? Não podemos propriamente dar-nos ao luxo
de recriar Capelas Sistinas ou Casas da Cascata.
-
Pois. – concordei – Não estou a dizer que possamos fugir completamente ao mainstream. O que quero dizer é que
quando nos chegarem com essas ideias, porque obviamente as pessoas não têm
grande sensibilidade arquitetónica nem isso se lhes pode exigir, têm uma
vontade comercial e isso é compreensível, passamos a tentar mostrar-lhes
opções. Se persistirem na ideia inicial, fazemos-lhes a vontade. Mas, por
princípio, esforçamo-nos para os conduzir por caminhos mais interessantes.
-
E depois… há ainda as exigências camarárias. Não podemos querer ser assim tão
diferentes. – arriscou Andreia.
Impacientei-me.
-
As câmaras que se danem. Não passam de políticos e tecnocratas e têm todos as
cabeças no umbigo. Com jeitinho, damos-lhes a volta. Podemos perfeitamente
fazer casas não cúbicas, transmitindo-lhes a impressão de que fazemos casas
cúbicas. Aí é que tem que morar a nossa criatividade. Temos que ser uma espécie
de prestidigitadores da arquitetura. Como estamos não tem graça. Temos que
conseguir imprimir um cunho pessoal, nosso, enquanto equipa coesa e com ideias,
ao que projetarmos, ok? Sei que torna tudo mais trabalhoso. Mas penso que,
também, menos enfadonho. Quem é que está comigo? Na verdade, isto até poderá
ser uma ordem, mas quero ter a vossa concordância, quero ver-nos como uma
equipa a sério. Empenhados. E inteligentes. Não somos exatamente engenheiros de
obras públicas. Vá, quem está comigo?
-
Se assim é… - disse João -…, estou de acordo. Para dizer a verdade, estou muito
de acordo.
Os
restantes acompanharam-no.
-
Ora muito bem. Perfeito! Estão dispensados. Obrigado por me terem escutado e
compreendido. – finalizei, extremamente agradado.
Enquanto
os via retirarem-se, chamei Marília e pedi:
-
Importava-se de me trazer os dados de que me falou? Aquele pedido de uma
reunião da Câmara? Obrigado. E traga-me ainda um cafezinho…
Marília
surpreendeu-se, bem o vi, mas preparava-se para aceder, o que não deixava de
ser interessante.
-
Estou a brincar. – aligeirei. E vi-a relaxar um pouco – Mas preciso mesmo dos
dados que aí tiver relativos ao contacto da Câmara.
-
Claro. – respondeu. E saiu, por instantes.
Enquanto
aguardava que regressasse com uma cópia de algum email, dados anotados de um telefonema ou algo assim, inspirei
profundamente e encostei-me, satisfeito como um felino satisfeito, ao fundo da
cadeira. No exterior, a tempestade não abrandara, mas os vidros duplos e os
estores tornavam-na virtualmente invisível. Como se acontecesse num canto
recôndito do mundo e nos chegasse apenas num impessoal flash noticioso.
Sem comentários:
Enviar um comentário